Aprender com a criança

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O quanto as crianças nos ensinam se estivermos dispostos a aprender com elas! Gosto de pensar na interacção humana como um momento musical, sem maestro, claro! No início, observa-se uma atitude sobretudo exploratória de todas as partes, lançando para o ar sons/gestos/ideias. A reacção que se obtém do outro é modeladora e influencia os próximos sons/gestos/ideias. Ou seja, existe uma circularidade entre o sujeito e o ambiente em que se encontra, influenciando-se mutuamente. Não há só eu nem há só outro. Há um nós que se vai desenhando e que é único em cada par eu-outro. Existindo um espírito de cooperação e de desejo de interacção com o outro, a atitude inicial tem como objectivo encontrar uma musicalidade harmoniosa e fluida para ambos. Existe uma co-construção que tem sentido para ambas as partes. Neste sentido, podemos falar de uma intencionalidade prévia – de carácter intuitivo e pouco consciente – de comunicar/chegar ao outro. Faz parte da nossa característica de seres sociais. Quando este encontro acontece, sentimo-nos felizes e em comunhão com o outro. Acredito que muitas vezes esta musicalidade é perturbada pela falta de tempo, pela rigidez mental de um ou mais elementos, ou pela imposição de ideias pré-concebidas, que outra coisa não são do que estratégias para lidar com o medo de não saber. Mas, a verdade é que face a um outro não sabemos… temos primeiro que nos sintonizar com ele, de modo a conhecê-lo. A observação atenta e o silêncio cognoscente, assentes num interesse genuíno pelo outro, são lições que cedo aprendemos com os bebés. Quando estamos perante uma criança, esta atitude de espera e escuta interessada faz a diferença na construção relacional. As crianças depressa nos dizem que, neste mundo do brincar, a autoridade não é do adulto… é da co-construção da relação que vai emergindo. Foi isso que, nós terapeutas, aprendemos no ateliê de hoje. Só tínhamos uma criança, o que sem dúvida facilitou a nossa atitude de observação participante. Primeiro queríamos conhecer bem a criança e ver que “música” queria fazer connosco. Observámos que, inicialmente, existia uma confusão musical, à medida que todos os elementos vão lançando as suas ideias/sons para o ar. Nós, terapeutas, começámos por pegar nos temas do ateliê anterior e procurar alguma continuidade. O Tiago mostrou-nos que a brincadeira não tem agenda! É sobretudo regulada pela espontaneidade e pela criatividade do sentir naquele momento. Deixámo-nos conduzir por ele, sendo o nosso principal objectivo… não ter objectivo… apenas brincar livremente, saltitando de brincadeira em brincadeira. Tal como na relação mais precoce, o nosso entusiasmo era alimentado pela antecipação da surpresa que esperávamos na reacção do outro, que acrescentava mais qualquer coisa à nossa brincadeira. Foi assim que, como acontece quando se come cerejas, um gesto puxava uma ideia e desta surgia uma nova história, um novo movimento, ou seja, mais uns sons para a “pauta” relacional que compúnhamos. A atenção que tínhamos uns em relação aos outros ia funcionando como um sensor do estado afectivo do outro e impelia ajustes na nossa actuação. Sentia-se um grande respeito uns em relação aos outros. Lembro-me de quando, fingindo ser um rei leão, Tiago quis descansar um bocado e eu e a Rita quisemos continuar a brincar. O rei leão Tiago pôs claramente os dedos nos ouvidos para não nos ouvir. Nós percebemos a mensagem e continuamos a brincar, mas sem fazer barulho. O rei leão Tiago descansou. Depois, saltou do seu canto e veio para ao pé de nós e disse: Vamos brincar?

Equipa NIB
Catarina Rodrigues

Ateliê «Do Corpo ao Movimento»

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Olá pais e mães! Participámos hoje, dia 26 de Setembro, no mais novo projecto do NIB, o ateliê «Do Corpo ao Movimento». Éramos 4 crianças dos 2 aos 4 anos e as terapeutas Catarina e Rita. Quando chegámos à Sala do Brincar, uns de nós estavam curiosos com o que ia acontecer e observavam a Sala e as duas terapeutas, outros estavam tímidos e outros estavam excitados e corriam de um lado para o outro, indo e vindo da sala onde estavam os pais conversando sobre temas muito sérios. Para nos conhecermos melhor, a Rita e a Catarina propuseram-nos que nos sentássemos numa roda e, através de um movimento ou gesto, mostrássemos como nos estávamos a sentir. Ou seja, utilizámos o movimento e a expressividade facial como principal meio de comunicação dos nossos afectos. Este é um meio de comunicação que conhecemos bem e que utilizámos com excelência quando éramos bebés. Sabiam que aquilo a que os bebés estão mais atentos é à expressividade afectiva da face (e da voz) dos pais? Não é por acaso que os pais, nesta altura, colocam o bebé tão perto da sua face. Percebem intuitivamente a sua preferência pela face humana. E são os movimentos faciais a primeira coisa que os bebés imitam. Estão a registar afectos. De tal forma que, aos seis meses, os bebés são especialistas na face humana e no reconhecimento das emoções, usando com mestria esse conhecimento na sua interacção com o outro. Como era a primeira vez que estávamos juntos e ainda não nos conhecíamos bem, nada melhor do que uma brincadeira que permitia esta exploração através da comunicação não-verbal. Mas, o nosso sentimento de confiança dependia de irmos recarregar as baterias da segurança aos nossos pais. Por isso a porta da Sala do Brincar podia abrir-se sempre que precisávamos. Víamos os nossos pais e voltávamos, seguros. Mas, como aconteceu com um de nós, a nossa timidez podia fazer com que fosse imprescindível a presença de um dos nossos pais ao nosso lado. Não fazia mal. Sentimos que, na Sala do Brincar, cada um tinha o seu tempo e o seu espaço. Não havia pressa. A Rita e a Catarina iam propondo várias actividades, primeiro centradas no movimento, depois no desenho. Nós íamos dando também o nosso contributo e inventávamos movimentos diferentes e outro tipo de brincadeiras, que a Catarina e a Rita propunham sempre que todo o grupo imitasse de modo a irmos criando laços com uns com os outros. Por vezes, quando a alegria é muito grande – a isto chamamos felicidade - só nos apetece abraçar o outro e o mundo. Foi o que fez a Francisca já para o fim da sessão. Correu para abraçar a Rita e depois a Catarina. Estas sentiram o apelo da emoção e da união que aquele gesto tão simples e tão sentido significava e incentivaram outras corridas e mais abraços. Depois, chamaram os outros meninos e, à vez, todos correram ora para a Rita ora para a Catarina para darem e receberem um grande abraço. O Tiago, o Tomás e a Beatriz. É assim que acontece quando nos respeitamos e procuramos dar alegria e prazer ao outro. Recebemos o seu afecto genuíno. E quando o final da sessão espreitou por entre os ponteiros do relógio, todos sentíamos que podíamos confiar uns nos outros. Obrigada Beatriz, Tomás, Tiago e Francisca. Até à próxima sessão.

Equipa NIB

Catarina Rodrigues e Rita Gonzaga

Bem-vindos ao Bebé Brincar!

domingo, 11 de outubro de 2009

Nascido em 2006, o NIB (Núcleo de Investigação do Bebé) surgiu do entusiasmo de um grupo de pessoas, de uma urgência social de mudança e da pertinência de uma nova atitude na relação com os outros, e que tem como base a promoção da criatividade e da saúde. Esta mudança de paradigma na área da saúde mental – sair de uma perspectiva centrada no diagnóstico da doença para uma perspectiva centrada na saúde – tem como berço a relação de afecto e de aprendizagem criada com Coimbra de Matos, que nos ensinou a: Ganhar saúde! Porque a frustração e o sofrimento não ajudam ninguém a crescer!

Gerado em vários encontros, inicialmente sediados na Contemporânea (Clínica de Investigação e Desenvolvimento Psicológico, em Lisboa, cujo director clínico é o Prof. Dr. José Paz), onde a discussão e a liberdade de pensar e de criar eram os protagonistas e os anfitriões da nossa atitude relacional, o NIB conta, hoje em dia, com a presença de diferentes profissionais das áreas da saúde e da educação (psicólogos, psicoterapeutas, pedopsiquiatra, médico, educadores, professores e artistas). Pessoa que se foram conhecendo e acolhendo sonhos, projectos e desafios que pudessem trilhar o caminho do “ir sendo na aprendizagem com o outro”.

Um percurso que já conta com 10 anos de experiência nos mais variados contextos – desde a intervenção terapêutica, a nível privado e institucional, aos seminários de formação clínica e aos grupos de investigação de metodologias de intervenção na área da Parentalidade (Grupo de Observação de Bebés de acordo com o Método Esther Bick; Seminários de Formação de acordo com o Método dos Touchpoints de Brazelton e colaboradores; Formação de psicoterapeutas na área da Parentalidade, integrada no Curso de Especialização em Psicoterapia, CEPSI; Serviço domiciliário da Maternidade Alfredo da Costa, criado a partir da necessidade de dar continuidade aos cuidados prestados a bebés em risco). E mais recentemente contamos com a parceria do Laboratório de Música e de Comunicação na Infância – LAMCI, do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical – CESEM, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa – UNL, e da Companhia de Música Teatral, na pessoa da Dra. Helena Rodrigues.

Fomos colhendo os melhores frutos e semeando a terra com a esperança de novas colheitas. O paradigma relacional da complementaridade potencia o que há de único no ser humano: a sua criatividade e a sua capacidade de gerar afecto.
Esta necessidade de criar e de inovar na área da Parentalidade levou o nosso grupo de investigadores clínicos a procurar novos desafios de acção/intervenção e de investigação, complementares à intervenção psicoterapêutica. Privilegiamos a metodologia do brincar pela sua acção transformadora na qualidade das relações parentais e pelo potencial de investigação que suscita. Sob este prisma, temos como objectivo primordial a compreensão do desenvolvimento das competências relacionais do brincar durante a primeira e segunda infâncias, bem como a identificação dos processos que estão na base do brincar.
Designamos esta metodologia inovadora e criativa por “Momentos NIB – Nascer, Inovar e Brincar”.
Este modelo de intervenção clínico-pedagógica pode ser utilizado em diferentes contextos no quotidiano das relações familiares: desde os Workshops na Sala do Brincar (sede da nossa investigação), aos Workshops nas creches e jardins-de-infância.
A nossa teoria é aquela que construímos em conjunto com os outros, pais, educadores e crianças; o nosso método é o brincar (Momentos NIB), a nossa aprendizagem é pela vivência de experiências. Os nossos resultados são as transformações relacionais na vida dos “nossos parceiros”, pais e filhos e a nossa também. Acreditamos que é pela criação conjunta, na inovação de metodologias e na descoberta da brincadeira que os pais e filhos poderão encarar os desafios do crescimento como uma maneira de estar na vida ganhando com isso mais saúde e Momentos NIB!

Experimente um Momento NIB – trata-se da arte do encontro entre pais e filhos, estimulando vivências afectivas que geram e expandem competências relacionais, que se tornam mais espontâneas e criativas!


A fundadora e investigadora clínica responsável,

Lourdes Lourenço

A Equipa NIB