Desabafos Parentais: As Crianças e os Ovos Kinder

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Desta feita, resolvi aceitar o desafio da Catarina Rodrigues e partilhar uma das minhas "aventuras" com 3 rebentos... "Aventuras" entre aspas porque qualquer semelhança entre isto e as do Indiana Jones é mais do que pura coincidência... É um verdadeiro buraco negro inter-galáctico... eheheheheh

Tenho a Carolina com 9, a Leonor com 6 e o Salvador com 3 anos... pois, eu sei... de 3 em 3... é a conta que Deus fez e eu resolvi seguir à risca, pois a matemática não é, de todo, o meu forte e podia enganar-me nas contas...
O pior (ihihihihih) é quando os três se unem... e resolvem tirar a semana para mostrarem as suas facetas "obscuras"...

Ovo Kinder 1 (Carolina):
- Mãe, tenho um papelinho para assinares!
- Hum? Ah! está bem, está bem, depois eu vejo. (alerto todas as mães
que os papelinhos costumam aparecer quando estamos a fazer malabarismos: o jantar, arrumar a casa, basicamente... quando estamos de cabelos em pé e dispostas a aceitar tudo e mais um par de botas!)
(passadas umas horas)
- Carolina, traz lá, se faz favor, o papel da escola. Já agora é sobre o quê? (uma visita de estudo, um pedido não sei para quê... Oh Santa Ingenuidade!!!)
- Ah Mãe, é um papelinho...
- Um papelinho? Que papelinho?
- Um papelinho...
- Então é sobre o quê? (Neste momento, senti que as antenas de mãe se levantavam...)
- É de uns trabalhos...
- Trabalhos?!?!?!?!?! (Aqui não eram antenas... já eu parecia a sirene dos bombeiros...)
- Sim, sim Mãe. É de uns trabalhos. (estão a ver uma criança loira de olhos azuis com o ar mais angelical do mundo?!??!!?!?)
- Mostra lá! (estão a ver que se acabaram as delicadezas do "faz favor"....)
Começo a olhar para o dito papelinho... Uma folha quadriculada A4 cheia de contas de um lado e outro e no final a frase crucial "A Carolina não acabou os trabalhos, nem os passou do quadro"
Estão a ver o barulho da panela de pressão??? Um chilrear de passarinho face ao meu estado...
- Carolina, o que é que isto quer dizer??? (pergunta idiota, eu sei...)
Silêncio....
- Carolina, estou à espera que me respondas....
Silêncio... Se há coisa que irrita qualquer uma (digo eu) são estes silêncios sepulcrais....
- Carolina!
- Fui eu que não fiz os trabalhos... (isto foi dito por entre dentes e a um volume tal que quase que tenho de ter audição canina....)
- E não fizeste porquê? (segunda pergunta idiota....)
- Porque quis ir para o recreio jogar futebol...
Imaginam o que se seguiu??? Um discurso teórico-esotérico-
transcendente sobre os malefícios de não estudar... E ao mesmo tempo pensava: só espero que os outros dois não dêem em Cristianos Ronaldos do Século XXI.... Oh Santa Ingenuidade....!!!
No dia seguinte...

Ovo Kinder 2 (Leonor):
- Mãmã, tenho um papel para assinares. Olha eu gosto muito de ti.
Desta vez já não disse "está bem, está bem"... bolas! já estava escaldada... e ainda para mais estava a ser bajulada...
- Ah sim? Mostra lá o papel.
- Oh Mãmã, todos os meninos também levaram para casa... (lembrem-se, esta é a desculpa óbvia... foram todos, não fui só eu!)
E lá vem o papelinho, escrito pela mãozita dela: Eu hoje portei-me mal na aula.
- Leonor! O que fizeste?
- Eu gosto muito de ti...
- Sim filha, eu também gosto muito ti, mas agora dava mesmo jeito era saber o que fizeste...
- Oh mãmã mas todos os meninos estavam a fazer o mesmo
- Sim, mas a fazerem o quê?
- A mandarmo-nos da cadeira para o chão.
(epá, no meu tempo era mais engraçado... eheheheheheh Mas vamos lá a meter ar sério)
- E tu achas isso bem? A perturbar a aula. Quem foi o menino que começou a brincadeira? (nunca, mas nunca façam esta pergunta... cuidado com a resposta...)
Silêncio... (oh não...)
- Leonor, quem começou com a brincadeira?
- Fui eu!
Lá voltei eu a botar discurso... confesso que nestas alturas me sinto um verdadeiro peixe... só abro e fecho a boca...
E só pensava: ao menos o pequenito ainda escapa... Oh Santa Ingenuidade....!!!!
No dia seguinte....

Ovo Kinder 3 (Salvador):
Toca o telefone. É o pai.
- Fui agora buscar o Salvador ao colégio. Traz um recado!
- Outro papelinho?!?!!?!?!?!? (neste momento eu já estava por tudo... três dias seguidos... é muito...)
- Não, mas é um recado: portou-se muito mal hoje e ficou de castigo.
- O que foi que ele fez? (entreguei os pontos...)
- Andou o dia todo a meter-se com as meninas... e depois bla, bla, bla, bla.....
Já nem botei discurso... afoguei-me...

Qual a semelhança entre os meus filhos e os ovos Kinder??? Trazem sempre uma surpresa lá dentro....

Ana Paula Lebre

Comments

4 Responses to “Desabafos Parentais: As Crianças e os Ovos Kinder”
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Equipa NIB disse...

Adorei, Ana, simplesmente genial esta analogia entre as crianças e os ovos Kinder! Eu adorava esses ovos quando era criança! Adorava o chocolate e, claro, o brinde! Recordo-me muito bem do meu olhar ávido face aquele ovinho amarelo. Às vezes, até me esquecia de comer o chocolate todo. Isso não era o mais importante! O melhor era ver surgir um brinquedo das minhas mãos e pedir ajuda ao meu pai quando não era capaz de o fazer sozinha… e depois, brincar!
As surpresas são uma das melhores coisas da vida. Sem surpresa, desaparece a expectativa… e essa é um dos pilares organizadores da vida! Queremos saber mais, imaginamos, sonhamos, projectamos… Temos expectativa na vida e no que ela nos traz!
Quanto aos excertos que nos conta, devo dizer que adoro os seus filhos! São mesmo “putos” saudáveis e irreverentes. Preferem aprender a brincar, gozando e retirando prazer da relação com os outros! No outro dia enviaram-me um email sobre a auto-biografia de Rosa Lobato Faria que dedico aos seus filhos. Entre muitas outras coisas que adorei ler, vinha um comentário extraordinário sobre o prazer de se ser criança e de aprender na vida, no campo, com os amigos. Dizia assim: «Na Infância as escolas ainda não tinham fechado. Ensinavam-nos coisas inúteis como as regras da sintaxe e da ortografia, coisas traumáticas
como sujeitos, predicados e complementos directos, coisas imbecis como verbos e tabuadas. Tinham a infeliz ideia de nos ensinar a pensar e a surpreendente mania de acreditar que isso era bom. Não batíamos na professora, levávamos-lhe flores. E depois ainda havia infância para perceber o aroma do suco das maçãs trincadas com dentes novos, um rasto de hortelã nos aventais, a angústia de esperar o nascer do sol sem ter a certeza de que viria (não fosse a ousadia dos pássaros só visíveis na luz indecisa da aurora), a beleza das cantigas límpidas das camponesas, o fulgor das papoilas. E havia a praia, o mar, as bolas de Berlim».
Continua... Tive de dividir em várias partes!
Catarina Rodrigues

13 de abril de 2010 às 13:11
Equipa NIB disse...

Os seus filhos ensinam-nos qualquer coisa de fantástico e fundamental: a vida é para ser vivida com prazer e descoberta, e não com regras inúteis e chatas! Desculpem-me os professores! Há, sem dúvida, professores óptimos e fascinantes, normalmente são aqueles que vemos cá fora, no recreio, a brincar com os miúdos e a levá-los a olhar a natureza com olhar atento e deslumbrado! Não há melhor maneira de aprender todas as matérias relevantes para sermos adultos felizes e competentes! Reforço uma ideia que ouvi dizer de duas pessoas que muito considero: a Dra. Lourdes Lourenço e o Dr. Coimbra de Matos. Segundo eles, a realidade já tem limites e regras que cheguem. Aprendamos com elas. O restante é o amor de estar com… É o prazer de partilhar e de descobrir em conjunto! Aprendemos muito mais quando nos atrevemos a sair dos limites massificadores da escolarização actual.
Outra coisa: nunca gostei de "papelinhos", só quando eram de algum rapaz que eu gostava ou de uma amiga para conversarmos durante a aula! Acho que mais importante que enviar "papelinhos" a fazer queixinhas aos pais, muito se pode ganhar de falar e ouvir a criança. Normalmente, esta tem uma razão compreensível para o seu comportamento. As crianças gostam de aprender. Isso é o melhor da vida! Mas, genuínas e espontâneas como são, cansam-se se o que lhe oferecem não é suficientemente estimulante. Outras vezes, temos de desafiar a autoridade para crescer e aprender a ser autónomos e responsáveis. Estava a lembrar-me da Leonor…
Saber ouvir, saber conversar, ser empático com a criança é um dever dos adultos e um direito das crianças. Os papelinhos só humilham a criança, desgastam os pais e, geralmente, anunciam sentimentos de incompetência dos professores. O castigo não é solução. Todos nós já fomos crianças e conseguimos perceber tão bem esse desejo de ir lá para fora, ainda para mais agora que o sol raia e os passarinhos cantam e as flores desabrocham. A vida está lá fora! Quando isto é compreendido pelo adulto, este pode fazer uso da sua maior experiência e conhecimento do mundo e, de forma criativa, deslumbrar e intrigar a criança. Só assim, ela vai preferir aprender com um adulto do que ir brincar aprendendo com outra criança!
Viva os filhos Kinder e as mães Mafaldinha!
Catarina Rodrigues

13 de abril de 2010 às 13:12
Anónimo disse...

Uma resposta da "dra" bem ao seu nível, após uma exposição genuina e engraçada de UMA MÂE, a "dra" responde de uma forma que ilustra perfeitamente o seu nível de profissionalismo, e competências pessoais e relcaionais. Sem mais comentários. Além de não entender UMA MAE, nem leu o texto direito e apenas quis demonstrar um conhecimento oco e vazio cheio de frases cheias de teorias psicológicas absurdas. Fala apenas dela, e de uma forma infantil "o meu olhar ávido face àquele ovinho amarelo", e continua no mesmo tom de uma forma que revela uma ignorancia profunda e uma personalidade mesquinha.

Vale a pena ler até ao fim.

Trate essa cabeça, "dra".

19 de junho de 2010 às 04:21
Elsa Filipe disse...

Olá Ana. Adorei ler estas aventuras e são bem "melhores" que as do Indiana Jones.
Santa paciênia a de mãe... o meu ainda não vem com "papelinhos", mas confessoi que não deve faltar muito para o reguila começar a vir com algum "Kinder".
(P.S. ainda só tem 7 meses, mas já me começo a preparar pois tem o ar mais reguila e doce do mundo - daqueles que prometem!!!)

5 de abril de 2011 às 08:44

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