O Atelier Momentos NIB de hoje não aconteceu na Sala do Brincar como era previsto. Tal como na sessão anterior só tivemos com um menino, desta vez o Diogo de 2 anos. Só que o Diogo não quis sair logo do colo da mãe e por isso ficou com ela na sala onde os pais e os terapeutas conversavam. As terapeutas da Sala do Brincar olharam-se perplexas a pensar: “E agora? Como vamos fazer?” A mãe do Diogo, adivinhando os nossos pensamentos, incentivou-nos dizendo: “Agora vão ter de o conquistar!” Ao colo da mãe, que estava de costas para nós, o Diogo podia, em plena segurança, “avaliar” a situação e quem sabe, as intenções daquelas três “crescidas” que olhavam e sorriam para ele. Podia olhar e mostrar curiosidade ou, pelo contrário, esconder o rosto entre os cabelos da mãe; podia também afastar as nossas tentativas de aproximação com gestos claros como o da sua mão empurrando a minha ao mostrar-lhe os fantoches de dedo com que poderíamos brincar. Os olhos do Diogo até pousavam curiosos na bola que a Catarina e a Mariana faziam rolar em cima do pano de algodão, mas claramente ele ainda precisava de recarregar baterias no colinho da mãe que estava tão bom.
Mas afinal a sessão de movimento já tinha começado! Porque no NIB a aprendizagem que fazemos constantemente é essa: como podemos chegar ao outro, entendê-lo e ao mesmo tempo darmo-nos a conhecer e exprimir aquilo que sentimos. Decidimos então ficar na sala dos pais. Eu sentei-me ao lado do Diogo e da mãe e pude ir experimentando novas formas de interacção com ele. Tinha sempre o cuidado de deixar espaço aberto para que fosse ele, se quisesse, a continuar as minhas sugestões. Aos poucos, através de objectos que serviam de “ponte” entre os nossos espaços pessoais (onde nos sentíamos seguros e que era importante respeitar), fomos comunicando e visitando o espaço do outro. Por isso fiquei contente quando o Diogo, através de jogos muito simples de imitar/ ser imitado, surpreender/ mostrar-se surpreendido, começou a tomar a iniciativa de interagir comigo. Fomos desta forma ganhando o reconhecimento um do outro e com isso conquistando a nossa posição e afirmando o nosso “Eu”. Uso aqui de propósito o nós para mostrar o carácter de igualdade e de cooperação que o verdadeiro brincar, a meu ver, implica. Sem estarmos ao nível do outro não pode haver brincar (é outra coisa), mesmo quando brincamos aos pais e aos filhos, professor e alunos, ou medico e doente, somos iguais nesse jogo de faz-de-conta, em que a imaginação de um ajuda a desenvolver e constrói-se com a imaginação do outro.
Tendo o colo da mãe como porto seguro (que gradualmente deixou de ser o foco da sua atenção e passou a ser facilitador e espectador do seu brincar) o Diogo começou a interagir cada vez mais comigo, primeiro através dos objectos, depois dos nossos corpos e dos seus ritmos próprios. O colo da mãe esteve sempre lá – disponível – permitindo ao Diogo chegar até a esquecer-se dele por instantes. Foi um belo exemplo do que entendemos por vinculação!
Assim tivemos duas sessões a acontecerem simultaneamente no mesmo espaço, conversas entre adultos e o brincar de uma criança com os seus movimentos próprios, como um núcleo onde o Nascer, o Inovar e o Brincar, ganham sentido.
Rita Gonzaga Gaspar
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